Posicionamento da Federação Brasileira de Gastroenterologia com relação ao papel da colonoscopia e remoção de pólipos, na prevenção do câncer colorretal.
Um recente artigo publicado na prestigiosa revista ¨New England Journal of Medicine¨ questiona a validade do procedimento colonoscópico na prevenção do câncer colorretal. Trata-se de um trabalho prospectivo, realizado com registros populacionais da Noruega, Suécia, Polonia e Holanda, e, que envolveu quase 85.000 pessoas entre 55 e 64 anos de idade. Os indivíduos eram randomizados em 2 grupos, 1 que recebia um convite para realizar o procedimento endoscópico, e outro que não.
O resultado do presente trabalho, mostraram modesto benefício na prevenção do câncer com colonoscopia (18%) , comparado aos habituais 49-60% nos estudos de coorte e redução pouco significativa no que tange ao risco de morte secundária a esta neoplasia, frente ao grupo que não recebeu convite para realização do exame.
Estas credenciais poderiam se transformar numa quebra de paradigma, uma vez que a colonoscopia é amplamente recomendada como o exame de escolha na prevenção do câncer colorretal.
Quando este estudo é analisado com detalhes, observa-se, que há vários pontos que mostram certa fragilidade destes resultados, sendo os mais significativos:
- Somente 42% dos indivíduos selecionados e convidados para fazer colonoscopia, efetivamente realizaram o procedimento. A perda da casuística é significativa, com enorme potencial de comprometer a análise dos resultados visto que em qualquer estudo científico faz-se uma análise estatística prévia da população que deve ser estudada para atingir o nível esperado de significância estatística.
- A incidência de câncer colorretal nos países nórdicos aparentemente é menor que em outras regiões, tais como o Brasil.
- Em cerca de 1/3 dos pacientes que foram examinados, o percentual de pólipos detectados pelos examinadores foi inferior a 25%, número considerada na avaliação de qualidade dos exames endoscópicos. O exame colonoscópico é 100% examinador dependente.
- O tempo de observação do presente estudo é relativamente curto (10 anos) sendo que os próprios investigadores admitem a necessidade de se estender o tempo de observação por 15 anos.
- O estudo simplesmente ignora evidências claras e bem estabelecidas de que a colonoscopia com remoção de pólipos reduz dramaticamente a incidência de câncer colorretal. A primeira foi publicada em 1993, nesta mesma revista científica, no estudo ¨The National Polyp Study¨ por Sidney Winawer e colaboradores, que mostrou na sequência, a redução do risco de morte por câncer colorretal nos pacientes que fizeram a colonoscopia e removeram os pólipos.
Outros estudos estão sendo realizados e trarão maior clareza ao assunto, mas o que acreditamos ser muito importante neste momento, é reforçar que de nada adianta a solicitação do exame, se ele não for efetivamente realizado. Até o presente momento, a colonoscopia com remoção de pólipos continua sendo o procedimento mais indicado para prevenção do câncer colorretal, e mais do que nunca se comprova que a relação médico-paciente é fundamental para qualquer sucesso desta estratégia.
Federação Brasileira de Gastroenterologia